Não Somos Racistas? II
Depois de escrever aqui sobre o caso do menino etíope expulso do restaurante Nonno Paolo, no bairro Paraíso, Zona Sul de São Paulo, mais uma vez me vejo obrigado a bater literalmente nas teclas que formam a palavra racismo.
Ao comentar a vergonhosa situação vivenciada pelo garoto estrangeiro citei o livro "Não somos Racistas", no qual o autor, o diretor global Ali Kamel, minimiza a questão do preconceito racial no país. Pois bem, não levou nem duas semanas e um novo episódio engrossou as estatísticas de negros discriminados no Brasil. Infelizmente, parece que na grande imprensa só a Band se interessou por noticiar o fato.
Desta vez a história aconteceu dentro do supermercado Bompreço, em Salvador, na Bahia. A confusão começou quando a operadora de caixa , Sidnea dos Santos Oliveira, alertou a cabelereira Edicélia Brito dos Santos, que esta havia excedido a quantidade de mercadorias permitada para o "caixa rápido" (20 produtos).
A cliente não gostou de ter sido advertida e passou a se comportar de maneira racista para ofender a funcionária. Segundo testemunhas, Edicélia teria dito que Sidnea era uma "negra que não havia estudado", e depois prosseguiu com as ofensas repetindo seguidamente que aquilo "era coisa de preto, só podia ser coisa de preto" , ela ainda teria soltado a seguinte frase " É por isso que negro é burro".
A cabelereira só não contava que iria se ferrar bonitinho. Na fila do caixa, uma delegada (também negra) esperava para pagar as compras, era a doutora Elza Bonfim, ela presenciou tudo e deu voz de prisão para agressora. Enquanto a mulher era colocada na viatura, clientes que assistiram os insultos gritavam palavras de ordem e aplaudiam o trabalho da polícia.
Edicélia foi conduzida para a delegacia e autuada em flagrante por injúria preconceituosa. Para não continuar presa teve que pagar a fiança de 4 salários mínimos (R$ 2488), arbitrada pela delegada plantonista Acácia Nunes. O valor não põe fim ao caso, ela ainda terá que responder o processo na Justiça.
É por essas e outras que é uma enorme imbecilidade diminuir a dimensão do racismo brasileiro, pior ainda é negar sua existência, ainda que seja só no título de um livro. Na realidade, o Brasil é tão racista quanto os demais países onde o preconceito é declarado (europeus e outros).
Crimes oriundos do preconceito de cor são mais comuns por aqui do que a gente pode imaginar, a questão é que as pessoas preferem tratar as ocorrências como casos isolados ou simples mal-entendidos, e poucos ganham repercussão.
Somente o fato de um único canal ter noticiado o flagrante da delegada sobre a preconceituosa do supermercado, já mostra que existe uma preocupação em esconder a sujeira em baixo do tapete. Qualquer jornalista sabe que uma notícia como essa merece um destaque nacional.
Veja a matéria da Band com o momento da prisão:
2 comentários:
Olá, parabéns pelo blog!
Complementa o meu (Geografia). Copiei uma postagem sua. Venha conferir. Abraço
Lúcia Helena.
Não há de quê, adicionei vc nos meus links que considero importante, e que podem enriquecer a pesquisa de meus alunos e/ou quem tiver interesse.
Tudo de bom. Abraço.
Postar um comentário