sábado, 2 de fevereiro de 2013

O Brasil não aprende com suas tragédias

Há uma semana, o Brasil foi abalado pela tragédia da cidade de Santa Maria (RS), onde mais de 230 pessoas morreram e diversas ficaram gravemente feridas num dos maiores incêndios com vítimas fatais na história do país. O incidente aconteceu na boate Kiss, local em que um público - formado em sua maioria por estudantes da UFSM-  participava de uma festa de integração.

O ocorrido não chama atenção somente pela quantidade de vidas perdidas, mas também pelas circunstâncias em que tudo aconteceu.     A tragédia poderia ter sido evitada com medidas simples, porém uma sucessão de erros colaborou para que a coisa chegasse ao ponto que chegou.

Entre vários problemas identificados até agora, sabe-se que a boate contava somente com uma porta para entrada e saída, estava superlotada, tinha uma espuma de isolamento acústico instalada de forma irregular, e ainda permitia a realização de shows pirotécnicos em seu espaço interno. A casa ia totalmente na contramão das mínimas condições de segurança, mas estava funcionando perfeitamente. O maior problema é que as autoridades sabiam disso e não interditaram o local. Aí deu no que deu.

Após a tragédia gaúcha, o país tem vivenciado o que podemos chamar de (Efeito Kiss), pois vários estados e municípios resolveram vistoriar e fechar casas de shows que apresentam falhas na segurança. Alguns governos tomaram essa atitude por medo, outros fizeram para fingir responsabilidade mesmo. Pura hipocrisia! Mas a questão é a seguinte: até quando vai durar essa fiscalização rigorosa?

Em  países mais sérios, o incêndio da boate Kiss seria motivo de profundas mudanças na legislação sobre o funcionamento de locais com grande aglomeração de pessoas. Mas, infelizmente, o Brasil é incapaz de aprender com suas tragédias.

Basta tomarmos como exemplo as catástrofes  provocadas pelas chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro, que tirou a vida de mais de 900 pessoas no começo de 2011. O que mudou de lá pra cá? Quanto se tem investido na prevenção contra enchentes, deslizamentos, etc? Pouca coisa foi feita.

Infelizmente, aqui só se pensa no pior depois que ele acontece ou volta a acontecer. Aí já é tarde demais, e o preço deste relaxamento é pago com vidas.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Polícia, uma instituição racista

Já dizia uma música de protesto composta por Marcelo Yuka: "Todo camburão tem um pouco de navio negreiro". A canção faz parte do primeiro Cd do grupo "O Rappa", e foi um dos grandes sucessos que marcaram os anos 90. Yuka foi feliz ao relatar nesta letra a opressão da polícia brasileira sobre os afrodescendentes.

Um dos trechos da música é enfático: "É mole de ver, que em qualquer dura o tempo passa mais lento pro negão. Quem segurava com força a chibata agora usa farda, engatilha a macaca, escolhe sempre o primeiro negro pra passar na revista."

Não é segredo para ninguém que a polícia carrega um longo histórico de preconceito contra os negros, e isso ficou mais evidente na penúltima semana de janeiro, depois que uma ordem de serviço assinada por um comandante da Polícia Militar de Campinas (SP) vazou para a imprensa.
O documento, datado em 21 de dezembro de 2012, determina que a viatura responsável pelo patrulhamento de um dos bairros mais nobres da cidade, aborde "especialmente indivíduos de cor parda e negra". A ordem é do capitão Ubiratan de Carvalho Góes Benneducci.

A polícia negou o cunho racista, e disse que essas seriam as características de indivíduos que praticam vários furtos e roubos na região, segundo uma carta enviada por moradores. É lógico que a polícia não iria assumir publicamente que vê o negro com outros olhos, mas esse comportamento racista da instituição já é bem conhecido, e se repete em todo o país. 

Para o major negro da PM paulista, Airton Edno Ribeiro, o racismo é uma das marcas da corporação. Em sua tese de mestrado intitulada “A Relação da Polícia Militar Paulista com a Comunidade Negra e o Respeito à Dignidade Humana: a Questão da Abordagem Policial”, existe uma pesquisa realizada com 50 cabos e soldados, onde esses relatam que [antes de entrarem na PM, achavam que havia preconceito contra negros. Depois de ingressarem não achavam mais: tinham certeza.]

Não por acaso, os negros lideram as estatísticas de mortos nos chamados "autos de resistência", onde o indivíduo morre supostamente em confronto com a equipe policial. É importante lembrar que por diversas vezes esses confrontos não aconteceram, foram forjados.

O racismo policial é pior do que os demais, porque acontece com o aval do Estado. O problema é que assim como no caso do garoto discriminado na BMW, o governo também prefere tratá-lo como "mal entendido".


Confira abaixo a ordem de serviço de cunho racista



O racismo na revendedora da BMW

Entra ano e sai ano, mas o preconceito racial brasileiro insiste em não ir embora. Hoje quero comentar sobre mais um caso vergonhoso de racismo que ganhou os noticiários na última semana.

Falo da discriminação sofrida por um menino negro na (Autokraft), revendedora autorizada de veículos da BMW, localizada na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. A criança de 7 anos  foi expulsa da loja onde os pais adotivos (de cor branca) negociavam a compra de um carro.

Imaginando que o garoto se tratava de um menino de rua em busca de dinheiro, o gerente que atendia o casal se dirigiu a ele com as seguintes palavras: "você não pode ficar aqui dentro, aqui não é lugar para você. Saia da loja". Sem entender o motivo do destrato, o filho deixou o local perguntando aos pais adotivos porque não aceitavam crianças naquela loja, e porque tinham uma televisão passando desenhos, já que ali não gostavam de crianças. 

O caso se assemelha com o de um menino negro, etíope, de 6 anos, expulso da Pizzaria Nonno Paolo, na Zona Sul de São Paulo, no fim de 2011. O garoto aguardava na mesa enquanto os pais adotivos (um casal de espanhóis de férias no país) se serviam no bufê do restaurante. Incomodado com a presença da criança, um funcionário a retirou do local a força.

Voltando para a história mais recente, a concessionária da BMW tratou de classificar o fato como um simples "mal-entendido", desculpa essa que já se tornou um clichê para os racistas. Sempre que o cerco se fecha, tudo não passou de um "mal-entendido". 

Mas a verdade é uma só, o vendedor julgou o menino pela cor de sua pele. Com a condição financeira dos pais adotivos, tenho certeza que a criança não estava tão descuidada e mal vestida a ponto de ser confundida com um menor de rua. O único problema é que se tratava de uma criança negra na loja da BMW né?

Nem precisaria dizer, mas esse episódio é inaceitável. A questão racial no Brasil ainda é muito forte, e isso precisa ser combatido tanto na esfera educacional como na judiciária. É necessário mostrar para os entusiastas do "Apartheid" que acabou esse negócio do  "aqui não é lugar para você". 
O lugar do negro é dentro da própria sociedade, e ponto.

Veja a matéria sobre a discriminação na loja BMW, exibida no Sbt