sábado, 31 de dezembro de 2011

Sociedade em Foco homenageia brasileiros que marcaram 2011

O Prêmio Grandes Brasileiros é uma criação do blog Sociedade em Foco, ele tem por objetivo homenagear cidadãos, instituições ou empresas que de alguma forma deram sua contribuição para o Brasil. Essa é a sua primeira edição, mas a ideia é que o título seja concedido anualmente, sempre no mês de dezembro.
Os homenageados do ano serão escolhidos pelo autor do blog (Wilian César), e terão o nome publicado nesta página. Junto a identificação de cada  contemplado constará o motivo da escolha.
Os leitores podem indicar concorrentes pelo email: asociedadeemfoco@gmail.com



Zé Cláudio e D.Maria
Casal de extrativistas que combatia o desmatamento ilegal na Amazônia e foi assassinado em maio deste ano, no Pará. Eles recebem (in memorian) o título de Grandes Brasileiros concedido pelo blog, devido aos esforços que fizeram pela floresta. Há mais de 20 anos os dois travavam uma guerra contra madereiros  que promoviam o corte ilegal de árvores. Por conta da atuação viviam constantemente sob ameaça de morte.
Assim como a imprensa, as autoridades também tinham o conhecimento do problema, porém não conseguiram evitar o crime. Que apartir de agora  nossos políticos passem a tratar a questão ambiental com mais importância, o problema é tão complexo quanto o tráfico de drogas. É preciso reforçar a segurança nessa região, onde  se contrata um matador de aluguél com a mesma facilidade que se compra um doce.

Bombeiros do Rio de Janeiro
Os bombeiros do Rio estão recebendo o prêmio pelos heróicos trabalhos de resgate nas tragédias provocadas pelas chuvas que atingiram a região serrana do estado, no início do ano. Esses profissionais trabalharam (literalmente sem parar) e com muita garra, na procura de corpos e sobreviventes. Como recompensa pelo ato de bravura,  400 bombeiros foram presos e tratados como bandidos pelo governador Sérgio Cabral (PMDB), em junho, durante manifestações salariais. Atualmente o salário de um soldado do Corpo de Bombeiros no Rio é de R$ 950,00. Uma miséria !

Patrícia Acioli
Juíza assassinada por policiais militares em agosto deste ano, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro.
Ela está recebendo o prêmio (in memorian) devido ao excelente trabalho que apresentou enquanto investigava um grupo de extermínio composto por Pm's de São Gonçalo (RJ). A magistrada atuava na 4º Vara Criminal da cidade e tinha fama de "linha dura" com os criminosos. Pagou com a vida por tentar fazer valer a lei contra a banda podre da polícia fluminense.

Eliana Calmon
Ministra corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ganhou o prêmio pelo brilhante trabalho que vem desempenhado na Corregedoria do órgão.
A ministra  tem enfrentado duras críticas por parte de algumas associações de magistrados, desde que resolveu investigar a suspeita evolução patrimonial de juízes e demais servidores da Justiça. 
Neste momento, Eliana deveria  ganhar o apoio de todos os brasileiros nesta luta contra a corrupção togada. Pelo andar da carruagem, da forma em que as coisas estão sendo conduzidas, a tendência é que a corregedora receba pressões de tudo quanto é lado do Judiciário.  Não desista  Eliana, é de pessoas como a senhora que o país precisa.

E assim fechamos 2011 com essa mais do que justa homenagem a pessoas dignas de nosso respeito.
O Sociedade em Foco deseja um feliz  2012 para todos os leitores !

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O embrulhado estômago do Judiciário

Depois que o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) resolveu investigar a suspeita evolução patrimonial de certos juízes e servidores de 22 tribunais, o Poder Judiciário brasileiro entrou em crise. Três associações de magistrados ficaram  incomodadas com a suposta "quebra de sigilo" dos suspeitos, e então recorreram ao  STF (Supremo Tribunal  Federal) para neutralizar o trabalho investigativo da  corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon.

Através de decisões provisórias, o STF atendeu ao pedido das  associações e acabou suspendendo a investigação. De acordo com Marco Aurélio Mello, ministro do Supremo, o CNJ não pode investigar nada antes das corregedorias locais (compostas por colegas dos investigados). A outra decisão favorável aos suspeitos partiu do ministro Ricardo Lewandowski, ele impediu que o Conselho continuasse apurando a folha de pagamento dos mesmos.

Em represária a atuação da Corregedoria do CNJ, as associações de magistrados pediram que a Procuradoria-Geral da República investigue Eliana Calmon pelo crime de violação de sigilo funcional. Numa outra tentativa de desmoralizar a ministra, o jornal "Folha de São Paulo"  publicou uma matéria sobre o benefício (legal) de [auxílio-moradia atrasado] que ela recebeu. 

É muito estranha toda essa movimentação das associações e alguns ministros do STF para destruir o trabalho e a moral da corregedora, uma vez que os juízes deveriam ser os principais interessados em um Judiciário limpo e transparente. É importante lembrar que a Justiça também é um orgão público e, assim como os demais, tem sim a obrigação de prestar contas a sociedade.
Se existem magistrados com o patrimônio incompatível ao salário, o CNJ tem mais é que investigar mesmo. A toga, por sí só, não é nenhuma garantia de bons costumes, sem apuração quem pode afirmar que não está ocorrendo enriquecimento ilícito, suborno ou venda de sentenças ?

Diminuir o poder do Conselho e deixar as investigações a cargo das corregedorias locais é um erro, o coleguismo e/ou corporativismo, sem dúvida comprometeria a seriedade das ações. Suspender a apuração na folha de pagamento também foi uma decisão extremamente absurda.
Conforme levantamento da corregedora, no Tribunal de Justiça de São Paulo, 45% dos suspeitos estão há dois anos sem apresentar declarações de imposto de renda para a corte, essa prestação de contas é prevista em lei.

Apesar de enfrentar grande oposição dentro do Judiciário, a ministra não está sozinha nessa luta.Além de contar com o apoio de servidores honestos em todos os escalões da Justiça, Eliana também tem a opinião pública ao seu lado.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A beira do monopólio

Onda de fusões entre empresas ameaça a livre concorrência, CADE tem se mostrado um orgão enfraquecido e submisso aos grandes grupos empresariais.
Há muito tempo venho querendo escrever sobre a fusão de empresas no Brasil, e o momento agora é mais que oportuno para tocar no assunto. É que nesta quarta-feira (14), o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) aprovou a fusão das companhias aéreas TAM e LAN, e também entre as empresas Citrosuco e Citrovita, duas grandes fabricantes de suco de laranja. Com a decisão, está autorizada a criação da  "Latam Airlines" (maior companhia aérea da América Latina), e a formação da maior produtora mundial de sucos de laranja.

Nos últimos anos, práticas como essas caíram no gosto de renomados grupos empresariais. A estratégia visa somar riquezas para favorecer a construção de um território cada vez mais sólido e bem demarcado no ramo em que atuam. E é justamente aí que moram os problemas. Esse "casamento" entre grandes empresas diminui a concorrência no mercado, o que na maioria das vezes implica no aumento de preços, queda na qualidade dos serviços prestados e até mesmo em demissões.

Podemos tomar como exemplo a fábrica de chocolates Nestlé, que em 2002 comprou a Garoto por 566 milhões de dólares, e hoje briga na Justiça para manter a posse sobre a mesma . Estou cansado de ver a caixa de bombom amarela com o mesmo preço da azul nas prateleiras das lojas, principalmente em época de Páscoa. Hoje, as duas marcas juntas somam 65% de participação em alguns mercados.

Em 2004, o CADE bateu o pé e rejeitou a união das gigantes do chocolate, mas ultimamente o Conselho parece não estar  tão disposto a contrariar grupos poderosos. De um tempo para cá, ao invés de vetar uma fusão prejudicial para a livre concorrência, virou moda  órgão conceder aprovação "com restrições".
Todos nós, consumidores, só temos a perder com essa passividade.

O  Sociedade em Foco realizou um levantamento de fusões realizadas no país nos últimos anos.
CONFIRA:

Setor alimentício:
*Nestlé e Garoto (28/02/2002)              
*Sadia e Perdigão(19/05/2009)
*Citrosuco e Citrovita (14/05/2010)

Setor varejista:


*Grupo Pão de Açucar (Pão de Açucar, Extra,Assaí,Ponto Frio) e
Casas Bahia (04/12/2009)
*Ricardo Eletro e Insinuante           (29/03/2010)
*Magazine Luíza e Lojas do Baú    (29/07/2011)

Setor farmacêutico:
*Droga Raia e Drogasil (02/08/2011)
*Drogaria São Paulo e Drogarias Pacheco (30/08/2011)

Setor bancário:

*Santander e Real (09/10/2007)
*Itaú e Unibanco   (03/11/2008)

Setor aéreo:

*Gol e Varig   (28/03/2007)
*TAM e Lan   (13/05/2010)

Telecomunicação:
*Sky e DirecTV       (11/10/2004)
*Oi e Brasil Telecom (25/04/2008)    

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A morte no banheiro da rodoviária

Imagine a seguinte situação: 
Um homem desnorteado caminha completamente nú em uma rodoviária, algum tempo depois ele é abordado por três policiais militares e levado para o banheiro do terminal. Quando já está próximo da porta o rapaz resiste para não entrar no local, mas é contido e colocado para dentro  sob agressão. Depois de alguns minutos, os policiais saem do banheiro carregando o mesmo homem  (desmaiado) e o colocam na viatura, ele então é levado para o hospital, onde sua morte é constatada pelos médicos.
A história anterior aconteceu na madrugada da última terça-feira (06), no município mineiro de Ubá, toda ação foi registrado pelas câmeras de segurança do terminal rodoviário. A vítima  foi identificada como Rafael Lucas Clemente da Silva, de 26 anos.

A reportagem do  Ubá Notícias, um site local, teve acesso ao boletim de ocorrência escrito pelos Pm's, o documento relata que  Rafael " estaria descontrolado e agressivo, que o mesmo teria agredido pessoas próximas ao terminal e também teria agredido os policiais no momento da abordagem, sendo necessário o uso de força moderada para contê-lo".

Apesar das afirmações contidas no BO, nada disso foi registrado pelas câmeras de vigilância e nenhuma das supostas vítimas de agressão foram identificadas. A versão da polícia também não foi confirmada pelo vigia da rodoviária, senhor Mauro Paulino Brum, ele garantiu ao site que [durante o período em que Rafael permaneceu no local,não houve agressões por parte dele nem a usuários da rodoviária e muito menos a policiais envolvidos na abordagem].

De acordo com o delegado responsável pela investigação do caso, o corpo do rapaz não apresentava marcas de violência, outros exames foram solicitados para tentar esclarecer a causa da morte mas só ficarão prontos em janeiro. Marli Clemente, mãe de Rafael, disse ao Ubá Notícias que o filho era viciado em crack  [e por isso não andava bem de suas faculdades mentais].


OPINIÃO:

Não posso me antecipar aos exames solicitados pela Polícia Civil, afirmando aqui que a morte de Rafael foi provocada pelos policiais militares, mas também não posso ignorar o que é mostrado nas imagens. É muito estranho o fato do rapaz ter entrado vivo e consciente  no banheiro e minutos depois deixar  o local desacordado. Não seria muita coincidência ?  

Cabe chamar atenção também para  a distorção dos fatos no boletim de ocorrência.
As câmeras mostram muito bem que os policiais não foram agredidos no momento da abordagem, não existem imagens das supostas agressões à usuários do terminal, e o próprio vigia da rodoviária não confirma o que foi dito pelos pm's.  Então, porque os militares estariam tão interessados em colocar no papel uma história fantasiada? Como diz o ditado:"Quem não deve não teme". 
Somente essa deturpação dos acontecimentos já é um crime.

O fato de não haver indícios de violência  no corpo da vítima não é nenhuma novidade, existem técnicas para bater sem deixar marcas e (a polícia as domina muita bem), o próprio vídeo é testemunha das agressões contra o rapaz.
Ainda que algum dos exames solicitados pelo delegado aponte uma causa diferente para a morte de Rafael, é válido e oportuno dizer que a nossa polícia precisa ser melhor preparada. É uma vergonha ver três policiais  espancando um indíviduo magro e de estatura mediana para  conseguir dominá-lo.

Como já escrevi em outra oportunidade, num texto denominado  "Fábrica de Policiais", a Polícia Militar de Minas Gerais forma seus soldados em apenas 10 meses. Um erro! Talvez essa seja a origem principal do problema. Tomara Deus que, pelo menos, a investigação da morte seja conduzida com lisura e transparência,  sem interesses políticos ou corporativismo. É o mínimo que se espera nesse momento.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

No Rastro do Preconceito

Jornalismo investigativo do Sbt denuncia o racismo da sociedade brasileira.
Por ocasião do Dia Nacional da Consciência Negra, na última postagem escrevi sobre as consequências do preconceito racial no Brasil . Agora estou retomando o tema para comentar a excelente reportagem intitulada "No Rastro do Preconceito", de Roberto Cabrini e sua equipe, exibida no Conexão Repórter da semana passada, no SBT. 

Para comprovar a existência de tratamento diferenciado com base na cor da pele, a produção do programa contratou um ator negro e outro branco, ambos foram submetidos a diversas situações semelhantes registradas por câmeras escondidas. Como era de se esperar, as imagens flagraram atitudes preconceituosas em todos os ambientes onde os testes foram realizados.

Ao sair para vender balas no sinal o ator branco foi bem recebido por vários motoristas, em  dez minutos boa parte seus doces já tinham sido vendidos. O ator negro, por sua vez, além de se deparar com a ignorância e vidros fechados, não conseguiu vender nada no mesmo espaço de tempo.
Em outro teste, em momentos distintos, os mesmos atores ficaram parados durante muito tempo  em frente ao portão de prédios de luxo.Apesar de estarem vestidos com roupas iguais, em todos os dois condomínios, só o negro foi abordado pela segurança dos locais.

Depois foi a hora testar o atendimento em duas lojas de  luxuosos automóveis importados, novamente vestido do mesmo modo os dois atores simularam o interesse em um veículo. Na primeira loja o ator branco foi atendido logo que chegou e conseguiu até mesmo entrar no carro, já o negro, teve sua presença ignorada pelos vendedores e só ganhou "atenção" quando cansou de esperar e se dirigiu até um deles , ao pedir para entrar no automóvel a resposta recebida foi negativa.
Na segunda loja o vendedor deixou de atender o ator negro para ficar falando no telefone, quando a ligação terminou veio a pergunta: "Você tem o faz-me rir ?". Uma desconfiança de que o suposto comprador não teria dinheiro para fechar o negócio.

A reportagem também exibiu uma ligação onde uma cliente reclama pelo fato da empresa ter enviado dois técnicos negros para consertar o sistema de gás em sua casa. Inconformada, ela se revela extremamente preconceituosa e insulta os funcionários com a atendente.



Outro ponto interessante da reportagem "No Rastro do Preconceito" foi a denúncia de que a Justiça Brasileira  ainda é muito complacente com o racismo, não existe registros de condenações severas para pessoas processadas nessa modalidade de crime no país. 
A matéria mostra o caso da empregada doméstica Simone Diniz, que ao procurar emprego no jornal se deparou com o classificado em que uma família estabelecia a cor branca como qualificação para a vaga. Ao ligar para o número do anúncio ela foi indagada sobre sua cor, quando respondeu que era negra ouviu a seguinte frase: " A sua cor não preenche os nossos requsitos". Simone acabou perdendo a causa nos tribunais brasileiros, mas recorreu a Justiça norte-americana, ganhou a ação e hoje recebe uma indenização de RS 36 mil.

Na mesma semana em que o Conexão Repórter denunciou o preconceito, em Londres uma mulher foi presa depois de fazer comentários racistas e insultar minorias étnicas que vivem no Reino Unido. Tudo foi filmado e postado na internet por um passageiro do  trem onde o fato acorreu.

"Onde é que esse país chegou?"  "Estamos rodeados de negros e polacos. Nenhum de vocês é inglês.Voltem para o vosso país". São algumas das palavras utilizadas.

Veja o vídeo: