domingo, 29 de dezembro de 2013

Uma cidade sangrenta

Nunca se matou tanto em Juiz de Fora

Com 138 homicídios registrados até a última quinta-feira, 2013 vai chegando ao fim como o ano mais sangrento da história de Juiz de Fora. Até então, o posto era ocupado pelo ano de 2012, quando 99 pessoas foram mortas na cidade.

A escalada da violência no município denuncia uma enorme fragilidade nas políticas de segurança de Minas Gerais, e mostra que o poder público precisa agir rápido se ainda tiver pretensões de vencer a guerra contra a criminalidade.

Talvez, o primeiro passo seja reconhecer que estamos em uma situação ruim. Já virou moda as autoridades dizerem que “aqui ainda está bom”, porque nossos índices de mortes violentas são menores do que tal cidade de porte semelhante.
 Quer dizer que se a grama no jardim do vizinho está maior, a do nosso quintal também pode continuar crescendo? Errado. Cada um que cuide para melhorar o espaço sob sua jurisdição.

Outra medida importante seria a construção de um banco de dados com o real número da violência, livre dos maquiamentos por interesses políticos. Não tem lógica alguma excluir uma vítima de assassinato das estatísticas só porque ela faleceu no hospital, e não no local do crime em si.

É preciso que o Estado desenvolva um trabalho sério para preservação da vida em Juiz de Fora.  Além do combate ao tráfico de drogas e porte ilegal de armas com maior estruturação e preparo das polícias, a cidade também precisa de programas sociais para o enfrentamento da questão.

O que a Prefeitura oferece hoje para tirar os jovens e adolescentes da ociosidade e, consequentemente, do submundo do crime?

É impossível se conformar com o atual quadro de insegurança que vem se instalando em nossos bairros, praças, ruas e avenidas. Independente da índole de quem morre, cada baixa é uma grande derrota para o município.

domingo, 27 de outubro de 2013

Polícia para menores, pretos e pobres

Circula pelo Facebook um manifesto elitista e preconceituoso em favor da redução da maioridade penal. O chargista desconhecido (talvez porque tenha vergonha de assumir publicamente seu ódio contra negros e pobres) resolveu deixar sua provocação.
Charge de cunho racista retirada do Facebook

A charge traz um diálogo conflituoso entre uma mulher negra e um policial militar dentro da favela. A mulher negra é mãe de um bandido menor de idade que o policial (herói) havia acabado de matar, e esse adolescente favelado, com apenas 15 anos, "já tinha matado 3 pais de família".

O que me incomoda na charge não é o clamor pela redução da maioridade penal, mas a forma que o chargista escolheu para pedi-la. Uma coisa é protestar contra a tolerância da legislação brasileira no que diz respeito aos crimes praticados por menores, outra coisa é criminalizar os negros e pobres de forma geral.

Fica claro o racismo do chargista em sua arte. É como se não existissem menores criminosos com outra cor de pele, ou morando em condomínios de luxo também. Chego a desconfiar do real interesse deste manifesto.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Os 50 anos do sonho de Martin Luther King


Há cinco décadas, em 28 de agosto de 1963, o pastor Martin Luther King subia as escadarias do Lincoln Memorial, em Washington, para proferir o histórico discurso 
“I Have a Dream”. Aquele era mais um capítulo da intensa luta pelos direitos civis dos negros norte-americanos num período de grande segregação racial.

Os negros eram vistos como cidadãos de segunda classe nos Estados Unidos, e por isso não podiam frequentar os mesmos ambientes que os cidadãos brancos. Também não tinham direito ao voto, e estavam entregues a violência e ao desemprego, principalmente no Sul do País.

Neste contexto social, Luther King liderou a conhecida “Marcha Para Washington por Empregos e Liberdade”, onde pregou uma reação não violenta contra a opressão do racismo. Diante de uma multidão de pessoas, disse que sonhava com uma nação onde seus filhos não mais seriam julgados pela cor da pele.

Infelizmente o líder não teve tempo de contemplar a realização deste sonho. Mesmo pregando a mudança por meio da paz, foi assassinado em abril de1968. Ao invés de intimidar os que clamavam por igualdade, sua morte só fez aumentar os protestos. Hoje, apesar de ainda haver certas diferenças a serem corrigidas, os afro-americanos já conquistaram grande parte dos direitos reivindicados nos anos 60.

Quarenta e cinco anos após o famoso discurso "Eu tenho um sonho", os eleitores americanos elegeram Barack Obama como o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos, não deixando nenhuma dúvida de que a semente plantada por Martin Luther King havia florescido.

Certamente a luta dos negros norte-americanos influenciou no combate ao racismo pelo resto do mundo. É impossível não ver um traço de King em Nelson Mandela durante a batalha contra o Apartheid, na África do Sul.

Até mesmo no Brasil, onde ainda há muito o que ser feito contra as diferenças raciais, Martin Luther King conseguiu deixar seu legado.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Princípio de incêndio atinge bar em Juiz de Fora

Flagrante:

Um princípio de incêndio foi registrado hoje a noite no Bar do Edinho, ao lado da sede da Astransp, no bairro Poço Rico. O fogo se iniciou por volta das 18h, na churrasqueira do estabelecimento, assustando os clientes que consumiam no local. 
As chamas chegaram a atingir o teto, mas foram controladas com um extintor pelo proprietário do bar. Ninguém se feriu, e os bombeiros não foram acionados. 
                                                  
Imagens exclusivas: Wilian César

domingo, 12 de maio de 2013

A publicidade da exclusão: cadê as mães negras?

Em homenagem ao Dia das Mães 2013, as "Casas Bahia" (maior anunciante do país) fez um comercial bem inteligente para comemorar a data. Ao som da música "Fico assim sem você", interpretada por crianças, um vídeo vai apresentando diversos momentos em que as mães estão presentes na vida dos filhos, sempre com muito carinho e (dedicação).  Numa forma de referência ao tradicional slogan "Dedicação total a você".

Do ponto de vista da emoção e criatividade, podemos dizer que tal comercial é uma obra perfeita. Porém, observando com um olhar mais crítico, é impossível não se atentar para um velho problema da publicidade brasileira: a resistência em colocar personagens negros nos papéis de destaque das campanhas publicitárias.

Se é para homenagear a "dedicação de todas as mães", como é dito por uma voz feminina ao final da mensagem, porque não existem mães e filhos negros nesse comercial das Casas Bahia então? O interessante é que a própria "Casas Bahia" tem uma expressiva quantidade de clientes negros.

A impressão que fica é que as mães negras não possuem uma relação de carinho e "dedicação" com seus filhos, ou que elas nem mesmo existem no Brasil. É uma exclusão semelhante a que acontece nos programas de televisão (principalmente novelas).

Ninguém está pedindo aqui uma cota para negros em campanhas publicitárias e nem acusando a loja de racismo, mas é importante lembrar que nós, afrodescendentes, também consumimos bens e serviços.

Não sei se a falha é das "Casas Bahia" em si, ou da agência de publicidade responsável por suas campanhas, a Young & Rubicam, de Roberto Justus. De qualquer forma, fica a crítica.

Assista o comercial do Dia das Mães 2013 Casas Bahia:

segunda-feira, 25 de março de 2013

"PEC das Domésticas" o pesadelo da elite

A aprovação da "PEC das Domésticas" no Senado foi recebida com indignação por muitos patrões brasileiros, basta observar alguns comentários na internet para perceber o clima de insatisfação entre eles.

Em uma das opiniões mais absurdas que li na rede, alguém  classificava como "injustiça" o fato de uma doméstica "que não estudou" receber acima de R$ 1 mil, como se todas as domésticas fossem analfabetas e, o estudo, único critério de valoração de salário.

De acordo com outro internauta, a categoria não pode ter tantos benefícios porque, diferente dos demais trabalhadores, "não gera lucros" para o empregador.  Quer dizer então que roupa lavada e passada, refeições e, casa arrumada, não são lucros? Enquanto os patrões ganham dinheiro na profissão que exercem, quem garante o conforto do final de expediente?

É de conhecimento público que o emprego doméstico no Brasil surgiu com o fim da escravidão. Sem a mão de obra escrava, a elite se viu obrigada a pagar pelo serviço que antes recebia gratuitamente. Assim, ex-escravos foram aproveitados nas funções do lar e, até hoje, a maior parte desses trabalhadores são afro-descendentes.

Durante muito tempo  a categoria ficou completamente desamparada pelas leis trabalhistas, o que favoreceu diferentes formas de abusos e explorações. Nesse contexto é que surgiram as jornadas de trabalho excessivas e os chamados  "quartinhos de empregada", cubículos  que as profissionais eram obrigadas a  dividir com baratas e trapos dos patrões.

A grande questão é que a elite brasileira nunca engoliu o fato dos mais humildes terem direitos na sociedade, é só a coisa melhorar um pouquinho para o outro lado que já começa a choradeira. O bom é que aos poucos o país está aprendendo a corrigir suas desigualdades, ainda que devagar.

Abaixo, uma performance de Gilberto Gil e Chico Buarque, onde os dois artistas brincam com a música "A mão da limpeza", que denuncia o preconceito e mostra como os negros assumiram atividades domésticas após o fim da escravidão:





sábado, 2 de fevereiro de 2013

O Brasil não aprende com suas tragédias

Há uma semana, o Brasil foi abalado pela tragédia da cidade de Santa Maria (RS), onde mais de 230 pessoas morreram e diversas ficaram gravemente feridas num dos maiores incêndios com vítimas fatais na história do país. O incidente aconteceu na boate Kiss, local em que um público - formado em sua maioria por estudantes da UFSM-  participava de uma festa de integração.

O ocorrido não chama atenção somente pela quantidade de vidas perdidas, mas também pelas circunstâncias em que tudo aconteceu.     A tragédia poderia ter sido evitada com medidas simples, porém uma sucessão de erros colaborou para que a coisa chegasse ao ponto que chegou.

Entre vários problemas identificados até agora, sabe-se que a boate contava somente com uma porta para entrada e saída, estava superlotada, tinha uma espuma de isolamento acústico instalada de forma irregular, e ainda permitia a realização de shows pirotécnicos em seu espaço interno. A casa ia totalmente na contramão das mínimas condições de segurança, mas estava funcionando perfeitamente. O maior problema é que as autoridades sabiam disso e não interditaram o local. Aí deu no que deu.

Após a tragédia gaúcha, o país tem vivenciado o que podemos chamar de (Efeito Kiss), pois vários estados e municípios resolveram vistoriar e fechar casas de shows que apresentam falhas na segurança. Alguns governos tomaram essa atitude por medo, outros fizeram para fingir responsabilidade mesmo. Pura hipocrisia! Mas a questão é a seguinte: até quando vai durar essa fiscalização rigorosa?

Em  países mais sérios, o incêndio da boate Kiss seria motivo de profundas mudanças na legislação sobre o funcionamento de locais com grande aglomeração de pessoas. Mas, infelizmente, o Brasil é incapaz de aprender com suas tragédias.

Basta tomarmos como exemplo as catástrofes  provocadas pelas chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro, que tirou a vida de mais de 900 pessoas no começo de 2011. O que mudou de lá pra cá? Quanto se tem investido na prevenção contra enchentes, deslizamentos, etc? Pouca coisa foi feita.

Infelizmente, aqui só se pensa no pior depois que ele acontece ou volta a acontecer. Aí já é tarde demais, e o preço deste relaxamento é pago com vidas.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Polícia, uma instituição racista

Já dizia uma música de protesto composta por Marcelo Yuka: "Todo camburão tem um pouco de navio negreiro". A canção faz parte do primeiro Cd do grupo "O Rappa", e foi um dos grandes sucessos que marcaram os anos 90. Yuka foi feliz ao relatar nesta letra a opressão da polícia brasileira sobre os afrodescendentes.

Um dos trechos da música é enfático: "É mole de ver, que em qualquer dura o tempo passa mais lento pro negão. Quem segurava com força a chibata agora usa farda, engatilha a macaca, escolhe sempre o primeiro negro pra passar na revista."

Não é segredo para ninguém que a polícia carrega um longo histórico de preconceito contra os negros, e isso ficou mais evidente na penúltima semana de janeiro, depois que uma ordem de serviço assinada por um comandante da Polícia Militar de Campinas (SP) vazou para a imprensa.
O documento, datado em 21 de dezembro de 2012, determina que a viatura responsável pelo patrulhamento de um dos bairros mais nobres da cidade, aborde "especialmente indivíduos de cor parda e negra". A ordem é do capitão Ubiratan de Carvalho Góes Benneducci.

A polícia negou o cunho racista, e disse que essas seriam as características de indivíduos que praticam vários furtos e roubos na região, segundo uma carta enviada por moradores. É lógico que a polícia não iria assumir publicamente que vê o negro com outros olhos, mas esse comportamento racista da instituição já é bem conhecido, e se repete em todo o país. 

Para o major negro da PM paulista, Airton Edno Ribeiro, o racismo é uma das marcas da corporação. Em sua tese de mestrado intitulada “A Relação da Polícia Militar Paulista com a Comunidade Negra e o Respeito à Dignidade Humana: a Questão da Abordagem Policial”, existe uma pesquisa realizada com 50 cabos e soldados, onde esses relatam que [antes de entrarem na PM, achavam que havia preconceito contra negros. Depois de ingressarem não achavam mais: tinham certeza.]

Não por acaso, os negros lideram as estatísticas de mortos nos chamados "autos de resistência", onde o indivíduo morre supostamente em confronto com a equipe policial. É importante lembrar que por diversas vezes esses confrontos não aconteceram, foram forjados.

O racismo policial é pior do que os demais, porque acontece com o aval do Estado. O problema é que assim como no caso do garoto discriminado na BMW, o governo também prefere tratá-lo como "mal entendido".


Confira abaixo a ordem de serviço de cunho racista



O racismo na revendedora da BMW

Entra ano e sai ano, mas o preconceito racial brasileiro insiste em não ir embora. Hoje quero comentar sobre mais um caso vergonhoso de racismo que ganhou os noticiários na última semana.

Falo da discriminação sofrida por um menino negro na (Autokraft), revendedora autorizada de veículos da BMW, localizada na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. A criança de 7 anos  foi expulsa da loja onde os pais adotivos (de cor branca) negociavam a compra de um carro.

Imaginando que o garoto se tratava de um menino de rua em busca de dinheiro, o gerente que atendia o casal se dirigiu a ele com as seguintes palavras: "você não pode ficar aqui dentro, aqui não é lugar para você. Saia da loja". Sem entender o motivo do destrato, o filho deixou o local perguntando aos pais adotivos porque não aceitavam crianças naquela loja, e porque tinham uma televisão passando desenhos, já que ali não gostavam de crianças. 

O caso se assemelha com o de um menino negro, etíope, de 6 anos, expulso da Pizzaria Nonno Paolo, na Zona Sul de São Paulo, no fim de 2011. O garoto aguardava na mesa enquanto os pais adotivos (um casal de espanhóis de férias no país) se serviam no bufê do restaurante. Incomodado com a presença da criança, um funcionário a retirou do local a força.

Voltando para a história mais recente, a concessionária da BMW tratou de classificar o fato como um simples "mal-entendido", desculpa essa que já se tornou um clichê para os racistas. Sempre que o cerco se fecha, tudo não passou de um "mal-entendido". 

Mas a verdade é uma só, o vendedor julgou o menino pela cor de sua pele. Com a condição financeira dos pais adotivos, tenho certeza que a criança não estava tão descuidada e mal vestida a ponto de ser confundida com um menor de rua. O único problema é que se tratava de uma criança negra na loja da BMW né?

Nem precisaria dizer, mas esse episódio é inaceitável. A questão racial no Brasil ainda é muito forte, e isso precisa ser combatido tanto na esfera educacional como na judiciária. É necessário mostrar para os entusiastas do "Apartheid" que acabou esse negócio do  "aqui não é lugar para você". 
O lugar do negro é dentro da própria sociedade, e ponto.

Veja a matéria sobre a discriminação na loja BMW, exibida no Sbt