A aprovação da "PEC das Domésticas" no Senado foi recebida com indignação por muitos patrões brasileiros, basta observar alguns comentários na internet para perceber o clima de insatisfação entre eles.
Em uma das opiniões mais absurdas que li na rede, alguém classificava como "injustiça" o fato de uma doméstica "que não estudou" receber acima de R$ 1 mil, como se todas as domésticas fossem analfabetas e, o estudo, único critério de valoração de salário.
De acordo com outro internauta, a categoria não pode ter tantos benefícios porque, diferente dos demais trabalhadores, "não gera lucros" para o empregador. Quer dizer então que roupa lavada e passada, refeições e, casa arrumada, não são lucros? Enquanto os patrões ganham dinheiro na profissão que exercem, quem garante o conforto do final de expediente?
É de conhecimento público que o emprego doméstico no Brasil surgiu com o fim da escravidão. Sem a mão de obra escrava, a elite se viu obrigada a pagar pelo serviço que antes recebia gratuitamente. Assim, ex-escravos foram aproveitados nas funções do lar e, até hoje, a maior parte desses trabalhadores são afro-descendentes.
Durante muito tempo a categoria ficou completamente desamparada pelas leis trabalhistas, o que favoreceu diferentes formas de abusos e explorações. Nesse contexto é que surgiram as jornadas de trabalho excessivas e os chamados "quartinhos de empregada", cubículos que as profissionais eram obrigadas a dividir com baratas e trapos dos patrões.
A grande questão é que a elite brasileira nunca engoliu o fato dos mais humildes terem direitos na sociedade, é só a coisa melhorar um pouquinho para o outro lado que já começa a choradeira. O bom é que aos poucos o país está aprendendo a corrigir suas desigualdades, ainda que devagar.
Abaixo, uma performance de Gilberto Gil e Chico Buarque, onde os dois artistas brincam com a música "A mão da limpeza", que denuncia o preconceito e mostra como os negros assumiram atividades domésticas após o fim da escravidão: