sábado, 28 de julho de 2012

O preconceito que faz escola

Há dois meses escrevi um texto intitulado de (O complexo de senhor de engenho), onde falei sobre a discriminação racial de um médico psicanalista contra a atendente negra de um cinema localizado em um shopping de Brasília. Hoje, os personagens e o cenário são diferentes, mas a história novamente traz um caso de preconceito. Desta vez aconteceu em uma escolinha infantil de Contagem, Região Metropolita de Belo Horizonte.

Durante a festa junina da escola, uma menina negra de 4 anos dançou quadrilha com um garoto branco, o que acabou despertando a ira da avó do aluno. Insatisfeita, a mulher reclamou da situação, disse que tinha vontade de acabar com a festa, e passou a ofender a aluna chamando-a de "preta horrorosa","negra horrorosa" e "feia". Uma professora testemunhou as ofensas e pediu que a direção tomasse providências, mas a diretora classificou o fato como "caso normal". Diante da omissão, a professora se demitiu e procurou a família da menina, que recorreu à polícia.

A avó racista foi ouvida na delegacia e vai responder por injúria racial (crime bem mais leve que racismo). Isso porque a Justiça brasileira  diferencia racismo de injúria racial, o que acaba favorecendo os indivíduos preconceituosos, principalmente aqueles que tem dinheiro.

Este episódio é apenas mais um exemplo para os que tentam sustentar o mito da "democracia racial" no país, os 'intelectuais' que insistem em dizer que a questão do preconceito de cor já foi superada. Infelizmente, o ódio e o sentimento de superioridade  em relação ao negro ainda é muito forte no Brasil, só que o preconceito aqui é velado. 

Ao se demitir da instituição e levar o fato ao conhecimento dos pais da criança discriminada, a professora Denise Cristina Pereira Aragão mostrou que realmente é uma educadora. Ela sabe muito bem que o papel de um professor vai além de ensinar a ler, escrever ou fazer continhas. Agora, o que dizer de uma escola onde a diretora chama uma discriminação de coisa "normal" ?

Que a Justiça seja feita nessa história!

Veja a matéria sobre o caso acima, exibida na Band:
 

domingo, 22 de julho de 2012

A visão de um transplantado

Quem conhece o estilo do blog Sociedade em Foco sabe que eu não tenho o costume de usá-lo para falar de conquistas ou a respeito de qualquer outro assunto pessoal. Afinal de contas, não criei a página com esse propósito, e se tivesse, ela teria recebido um nome  mais adequado para a situação. (Minha Vida em Foco) talvez fosse um bom nome de batismo.  Mas, enfim, é melhor deixar de conversa e partir para o que realmente interessa. 

Hoje tenho motivos de sobra para me utilizar como fonte de inspiração numa postagem. É que nesta data o meu transplante de córnea completa 1 ano de idade, o que me traz bastante alegria e ao mesmo tempo me faz pensar em dois assuntos sobre os quais passo a escrever nas próximas linhas.

O primeiro deles é a respeito da doação de órgãos e tecidos.  Se hoje estou comemorando o aniversário de um transplante é porque a família de um jovem de 16 anos foi bastante solidária comigo. Mesmo num momento de dor pela perda do familiar eles lembraram que poderiam ajudar alguém que sequer conhecem. 

Mas, infelizmente, nem todos tem a mesma consciência desse pessoal ou a mesma felicidade que sinto, pois a realidade de quem aguarda na fila de transplante brasileira ainda é muito triste.  Atualmente, milhares de pessoas com a saúde debilitada esperam por um órgão. É duro dizer, mas muitas já estão no limite da vida depois de passarem anos aguardando um gesto de solidariedade que não veio.  

E cabe somente a nós mudar essa história. Como? Conversando com nossa família sobre a importância de sermos  doadores e deixando claro que temos essa vontade. Devemos enxergar a doação como a oportunidade de manter a vida de alguém que se foi em outro que ainda está aqui, precisando de ajuda.  

 A segunda questão, não menos importante, é sobre o funcionamento do SUS (Sistema Único de Saúde). Conheço bem de perto os problemas deste, digamos, plano de saúde dos menos favorecidos financeiramente. É bem verdade que o sistema possui suas falhas (que não são poucas), mas sou obrigado a reconhecer que ele ainda é muito eficiente em determinadas situações. Como no meu caso, por exemplo, onde a cirurgia de transplante foi inteiramente custeada em um hospital particular.

É muito difícil fazer um acompanhamento sério do Ceratocone (doença oftalmológica que tive) pela rede pública de saúde, por isso tive que contratar um médico particular. Mas na hora de pagar R$ 5 mil para operar, eu confesso que iria ser complicado. Sem nenhuma burocracia o SUS pagou o procedimento. Lógico que isso não foi um ato de bondade do governo, mas o direito de um cidadão que paga seus impostos sendo exercido no país.

Nessas horas que a gente entende porque é preciso tratar a política como coisa séria, fiscalizar quem  está roubando os cofres públicos, cobrar projetos que realmente vão trazer retorno para o povo. Não adianta reclamar que a saúde tá ruim e eleger um corrupto novamente na próxima eleição.

Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2011 o Brasil bateu o recorde de transplantes de órgãos, foram mais de 20 mil procedimentos. Fico feliz em fazer parte dessas estatísticas e estar comemorando 1 ano do meu (ainda com 9 pontos na vista), mas os avanços precisam continuar acontecendo. Tem gente sofrendo hoje, e ajudar é dever de todos nós.

Agradeço a Deus e todos que de alguma forma contribuíram para minha vitória.

 Matéria do SBT sobre o recorde de transplantes em 2011