sábado, 30 de junho de 2012

Jornal "El País" flagra a violência em morro carioca

Chamando a atenção para a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016, o  jornal espanhol "El País", divulgou as imagens de uma operação policial ocorrida no dia 06/05/2012, no Morro do Querosene, Rio de Janeiro. O vídeo mostra policiais da UPP São Carlos em meio a um tiroteio na madrugada. Durante o confronto com traficantes, um soldado foi baleado com um tiro de calibre 45 na perna e precisou ser carregado pelos colegas. Weplisom da Silva Mendes passou por cirurgia e sobreviveu aos ferimentos.

Tudo foi registrado pelo fotógrafo Rafael S. Fabrés, que trabalha para o "El País" e durante quatro meses acompanhou "a luz  e as sombras" da  chamada "pacificação" das comunidades mais desfavorecidas e violentas do Rio de Janeiro.

A reportagem também faz críticas ao abuso de autoridade e uso excessivo da força, muitas vezes praticado até mesmo contra moradores inocentes, e lembra que tais atitudes acabam contrariando a essência do projeto original das UPP's.

Assistam as imagens impressionantes do "El País":

A Voz do Blog:
Neste momento a violência brasileira desperta a atenção no exterior justamente porque em poucos anos o país será palco de dois grandes eventos esportivos. É inegável que situações como a do "Morro do Querosene" queimam o filme do Brasil lá fora, mas antes de se preocupar em arrumar a casa para agradar os visitantes, a limpeza precisa ser feita para que os próprios moradores se sintam bem nela. Em outras palavras: mais importante do que criar um Brasil seguro para os gringos, é fazer com que os próprios brasileiros desfrutem de uma segurança diária em seu ambiente.

O projeto das Unidades de Polícia Pacificadora é uma iniciativa interessante no combate ao crime organizado, mas somente a ação repressiva não resolve o problema da criminalidade nos morros. A polícia precisa provar para a comunidade que está ali como amiga, confiança que não será conquistada na marra.
É preciso que a instituição e os governos também marquem presença com ações e projetos sociais, como atendimento médico e odontológico, cursos profissionalizantes, oficinas de teatro e dança, atividades de esporte e lazer, entre outros.

Além disso, é fundamental atacar a corrupção existente dentro da própria polícia.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Um olhar sobre o golpe de Estado paraguaio

Presidente Fernando Lugo, deposto pelo Parlamento paraguaio.
Diferente do que muitos acreditam e tentam fazer acreditar, ao condenar o impeachment sofrido pelo presidente paraguaio Fernando Lugo, o Brasil e outros países da América Latina não estão "metendo o nariz onde não foram chamados". Sendo o Paraguai um membro do Mercosul e da Unasul, o país tem o dever de respeitar todos acordos estabelecidos dentro desses dois blocos, e qualquer quebra de compromisso  passa, sim, a ser um problema dos demais integrantes.

Acontece que nas condições em que o processo de impeachment ocorreu, e até mesmo pelos motivos alegados, o Paraguai promoveu um autêntico golpe de Estado. Não se pode destituir um presidente do poder em apenas 48 horas, num julgamento sem nenhuma oportunidade de defesa, motivado unicamente por divergências ideológicas. Antes de tudo, Lugo foi eleito democraticamente pelo povo, e tinha pela frente mais nove meses de mandato.

Em 24 de julho de 1998, os países do Mercosul assinaram o documento conhecido como Protocolo de Ushuaia, onde se comprometeram a zelar pela democracia. A partir do momento em que o Congresso paraguaio invalida  um governo escolhido pelo povo, ele mostra que não tem nenhum respeito pelo acordo firmado naquela ocasião, e muito menos por aqueles que possam ser feitos atualmente.
Ora, se um país não respeita nem a própria democracia, quem dá garantias de que irá manter os pactos estabelecidos com seus aliados?

Enquanto não tiver um governo legal, eleito democraticamente, nada mais justo que o Paraguai seja banido do Mercosul e da Unasul. Aceitar um mandato criado de forma autoritária seria o mesmo que legitimar as ditaduras que no passado assolaram a maior parte dos países sul-americanos.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Idoso foi a vítima fatal da polícia no Pinheirinho

No começo do ano, na ocasião da reintegração de posse do acampamento Pinheirinho, em São José dos Campos, o blog Sociedade em Foco já havia criticado a atuação truculenta da Polícia Militar de São Paulo contra os habitantes do local . 

Acompanhada da Guarda Municipal, a PM invadiu a área na madrugada de um domingo enquanto os moradores ainda dormiam, e promoveu uma série de excessos e abusos de autoridade. Até quem  não ofereceu resistência (inclusive mulheres, crianças e idosos) foi atacado com cães, cavalos,  bombas de efeito moral, tiros de borracha, spray de pimenta e cassetetadas.

Mesmo com o flagrante das agressões registrado pelas câmeras da imprensa e imagens de amadores, a polícia divulgou uma nota mentirosa intitulada de "Reintegração de posse pacífica em São José dos Campos/SP", o documento finaliza negando a existência de mortos ou feridos na operação.

Além da própria corporação,  quem também elogiou o trabalho sujo da PM foi a juíza Márcia Mathey Loureiro, responsável pela a ordem de desocupação do espaço. Em entrevista ao jornal "O Vale", ela disse que a polícia  "com muita competência, exerceu e desempenhou um serviço admirável, motivo de orgulho para todos nós", acrescentando ainda que foi um "êxito" o fato de não ter havido nenhuma morte, ou "baixa", como a mesma colocou.

Ocorre que a ação da Polícia Militar fez sim uma vítima fatal, foi o aposentado Ivo Teles dos Santos, de 70 anos. Horas depois do despejo ele deu entrada no hospital municipal Dr. José Carvalho de Florence, onde ficou internado em coma até 22 de março, quando teve alta. De acordo com a filha do idoso, ele permaneceu em estado vegetativo até o dia em que  faleceu,  9 de abril. Neste período não se movimentou ou respondeu a qualquer estímulo.

Testemunhas afirmaram ao Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), que o aposentado foi hospitalizado após ser agredido por policiais com cassetetadas na cabeça, depoimento que também foi colhido pela Polícia Civil.

A denúncia condiz com uma entrevista prestada pelo próprio senhor a uma repórter do jornal  "O Vale", onde  ele reclamou da violência sofrida: "Eles vieram com muita violência para tirar a gente de casa. Eu reagi e eles partiram para cima. Caí no chão e os três policiais continuaram a bater com o cassetete em mim. Olha só como estou agora, não consigo nem andar."

Um vídeo gravado no mesmo dia também reforça a versão do espancamento. Nas imagens Ivo aparece exaltado mostrando as marcas da agressão para cinco militares. Com as costas toda suja e arranhada, ele caminha em direção aos policiais chamando-os de "covardes", e dizendo em seguida que  iriam "pagar por isso".
                                     
Vídeo do aposentado machucado e gritando com os policiais

A direção do hospital disse que o idoso deu entrada na unidade com "quadro confusional" e "crise hipertensiva" após sofrer um AVC hemorrágico, diagnosticado pela  realização de uma tomografia de crânio. Integrantes do corpo de enfermagem disseram para ex-mulher da vítima que a causa primária da internação teria sido em consequência das agressões.

A pedido do defensor público Jairo Salvador, de São José dos Campos, a Justiça autorizou a exumação do corpo para exames que ajudarão na investigação.  Além deste caso, a defensoria recebeu outras 586 ações individuais de moradores que sofreram violência física e psicológica, ou perderam seus bens na ação. A PM paulista, como de costume, negou as agressões.

O fato em foco:
A morte do senhor Ivo Teles é uma vergonha para  todo o Brasil. Com ela, a Polícia Militar de São Paulo cometeu mais um de seus tradicionais abusos de autoridade, desrespeitando a Constituição Federal, os direitos humanos, e ainda atentando contra o Estatuto do Idoso.

O governador Geraldo Alckmin deveria ser processado  e condenado juntamente com o prefeito Eduardo Cury, com o secretário de segurança pública, comandantes da operação no Pinheirinho e todos os policiais diretamente envolvidos no assassinato do aposentado.
O que aconteceu com Ivo é uma repetição dos abusos da Favela Naval em 1997, repetição das frequentes execuções sumárias da Rota , e de tantos outros casos desastrosos que volta e meia estão na mídia. Isso mostra que ou o governo paulista perdeu o controle sobre seus policiais, ou que compactua com os erros deles.

As polícias militares do país, com seu arcaico modelo de (Brasil ditadura), deveriam ser dissolvidas e transformadas numa força de segurança transparente, com pessoas que não olham o cidadão de bem  por cima de um pedestal, vendo-o como seu rival e subordinado. No final do mês passado, até o Conselho de Direitos Humanos da ONU  recomendou essa extinção do nosso atual padrão de polícia, justamente com base nos comprovados excessos.

A Justiça precisa condenar o Estado de São Paulo a pagar uma indenização decente para a família de pessoas vítimas da truculência policial. E que esses valores não sejam colocados na eterna fila dos precatórios. Agora, o ideal mesmo é que ninguém tenha seus direitos desrespeitados por um representante do Estado, indivíduo pago com o dinheiro dos nossos impostos para nos proteger, e não para nos agredir ou matar.

* Postagem feita com referência na matéria do link