No começo do ano, na ocasião da reintegração de posse do acampamento Pinheirinho, em São José dos Campos, o blog Sociedade em Foco já havia criticado a atuação truculenta da Polícia Militar de São Paulo contra os habitantes do local .
Acompanhada da Guarda Municipal, a PM invadiu a área na madrugada de um domingo enquanto os moradores ainda dormiam, e promoveu uma série de excessos e abusos de autoridade. Até quem não ofereceu resistência (inclusive mulheres, crianças e idosos) foi atacado com cães, cavalos, bombas de efeito moral, tiros de borracha, spray de pimenta e cassetetadas.
Mesmo com o flagrante das agressões registrado pelas câmeras da imprensa e imagens de amadores, a polícia divulgou uma nota mentirosa intitulada de "Reintegração de posse pacífica em São José dos Campos/SP", o documento finaliza negando a existência de mortos ou feridos na operação.
Além da própria corporação, quem também elogiou o trabalho sujo da PM foi a juíza Márcia Mathey Loureiro, responsável pela a ordem de desocupação do espaço. Em entrevista ao jornal "O Vale", ela disse que a polícia "com muita competência, exerceu e desempenhou um serviço admirável, motivo de orgulho para todos nós", acrescentando ainda que foi um "êxito" o fato de não ter havido nenhuma morte, ou "baixa", como a mesma colocou.
Ocorre que a ação da Polícia Militar fez sim uma vítima fatal, foi o aposentado Ivo Teles dos Santos, de 70 anos. Horas depois do despejo ele deu entrada no hospital municipal Dr. José Carvalho de Florence, onde ficou internado em coma até 22 de março, quando teve alta. De acordo com a filha do idoso, ele permaneceu em estado vegetativo até o dia em que faleceu, 9 de abril. Neste período não se movimentou ou respondeu a qualquer estímulo.
Testemunhas afirmaram ao Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), que o aposentado foi hospitalizado após ser agredido por policiais com cassetetadas na cabeça, depoimento que também foi colhido pela Polícia Civil.
A denúncia condiz com uma entrevista prestada pelo próprio senhor a uma repórter do jornal "O Vale", onde ele reclamou da violência sofrida: "Eles vieram com muita violência para tirar a gente de casa. Eu reagi e eles partiram para cima. Caí no chão e os três policiais continuaram a bater com o cassetete em mim. Olha só como estou agora, não consigo nem andar."
A denúncia condiz com uma entrevista prestada pelo próprio senhor a uma repórter do jornal "O Vale", onde ele reclamou da violência sofrida: "Eles vieram com muita violência para tirar a gente de casa. Eu reagi e eles partiram para cima. Caí no chão e os três policiais continuaram a bater com o cassetete em mim. Olha só como estou agora, não consigo nem andar."
Um vídeo gravado no mesmo dia também reforça a versão do espancamento. Nas imagens Ivo aparece exaltado mostrando as marcas da agressão para cinco militares. Com as costas toda suja e arranhada, ele caminha em direção aos policiais chamando-os de "covardes", e dizendo em seguida que iriam "pagar por isso".
Vídeo do aposentado machucado e gritando com os policiais
A direção do hospital disse que o idoso deu entrada na unidade com "quadro confusional" e "crise hipertensiva" após sofrer um AVC hemorrágico, diagnosticado pela realização de uma tomografia de crânio. Integrantes do corpo de enfermagem disseram para ex-mulher da vítima que a causa primária da internação teria sido em consequência das agressões.
A pedido do defensor público Jairo Salvador, de São José dos Campos, a Justiça autorizou a exumação do corpo para exames que ajudarão na investigação. Além deste caso, a defensoria recebeu outras 586 ações individuais de moradores que sofreram violência física e psicológica, ou perderam seus bens na ação. A PM paulista, como de costume, negou as agressões.
O fato em foco:
A morte do senhor Ivo Teles é uma vergonha para todo o Brasil. Com ela, a Polícia Militar de São Paulo cometeu mais um de seus tradicionais abusos de autoridade, desrespeitando a Constituição Federal, os direitos humanos, e ainda atentando contra o Estatuto do Idoso.
O governador Geraldo Alckmin deveria ser processado e condenado juntamente com o prefeito Eduardo Cury, com o secretário de segurança pública, comandantes da operação no Pinheirinho e todos os policiais diretamente envolvidos no assassinato do aposentado.
O que aconteceu com Ivo é uma repetição dos abusos da Favela Naval em 1997, repetição das frequentes execuções sumárias da Rota , e de tantos outros casos desastrosos que volta e meia estão na mídia. Isso mostra que ou o governo paulista perdeu o controle sobre seus policiais, ou que compactua com os erros deles.
O governador Geraldo Alckmin deveria ser processado e condenado juntamente com o prefeito Eduardo Cury, com o secretário de segurança pública, comandantes da operação no Pinheirinho e todos os policiais diretamente envolvidos no assassinato do aposentado.
O que aconteceu com Ivo é uma repetição dos abusos da Favela Naval em 1997, repetição das frequentes execuções sumárias da Rota , e de tantos outros casos desastrosos que volta e meia estão na mídia. Isso mostra que ou o governo paulista perdeu o controle sobre seus policiais, ou que compactua com os erros deles.
As polícias militares do país, com seu arcaico modelo de (Brasil ditadura), deveriam ser dissolvidas e transformadas numa força de segurança transparente, com pessoas que não olham o cidadão de bem por cima de um pedestal, vendo-o como seu rival e subordinado. No final do mês passado, até o Conselho de Direitos Humanos da ONU recomendou essa extinção do nosso atual padrão de polícia, justamente com base nos comprovados excessos.
A Justiça precisa condenar o Estado de São Paulo a pagar uma indenização decente para a família de pessoas vítimas da truculência policial. E que esses valores não sejam colocados na eterna fila dos precatórios. Agora, o ideal mesmo é que ninguém tenha seus direitos desrespeitados por um representante do Estado, indivíduo pago com o dinheiro dos nossos impostos para nos proteger, e não para nos agredir ou matar.
* Postagem feita com referência na matéria do link
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