Mais do que promover a afirmação da identidade negra, o dia 20 de novembro também representa uma data de protesto. É um momento para falar das injustiças de ontem, combater as de hoje e impedir as de amanhã.
Hora de fazer um resgate histórico, mostrando ao povo brasileiro que a crueldade de antigos administradores separou famílias inteiras, submeteu semelhantes a torturas e trabalhos forçados, e criminalizou manifetações culturais como o samba e a capoeira, por exemplo.
Com muita luta dos próprios afrodescendentes este cenário foi se modificando, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido até a igualdade racial brasileira. Basta lembrar que a população negra aparece em número elevado dentro dos índices de violência, desemprego e subemprego.
A explicação para esse quadro atual está na forma como o processo de abolição foi conduzido no país. Diferente dos Estados Unidos, que criou a instituição Freedmen's Bureau ("Escritório do Liberto") para dar condições ao ex-escravo de se inserir e viver dignamente em sociedade, o Brasil lançou os libertos a sua própria sorte, ou porque não dizer, destruição.
Após a abolição brasileira, um grupo de intelectuais e políticos racistas procurou manter os negros em condições de extrema pobreza com a finalidade de empurrá-los para extinção. Entre os adpetos dessa corrente, figuravam nomes importantes como Monteiro Lobato, Euclides da Cunha, Artur Ramos e Nina-Rodrigues.
Havia uma crença de que se não recebessem nenhuma ajuda os negros seriam vencidos pela mortalidade infantil, desnutrição, doenças, entre outros problemas sociais. Alguns membros do chamado "racismo científico" chegaram a prever que em 70 anos não haveria mais negro no país. Sem amparo, ex-escravos e seus descendentes passaram a viver precariamente em morros, atualmente conhecido como favelas.
A desejada extinção da população negra brasileira foi um fracasso, mas deixou para o país uma grave herança de desigualdade social e preconceito que prevalece até os dias atuais. Além das diferenças econômicas, ficou o racismo que se faz presente nas abordagens diferenciadas e execuções sumárias da polícia, nos estereótipos e na segregação imposta pela mídia, nas ofensas praticadas em locais públicos e pela internet, etc.
Apesar de tudo, podemos comemorar o aumento de políticas sociais que visam reparar os erros cometidos ao longo da história. Iniciativas como a cota racial em universidades, por exemplo, contribuem para o acesso a educação superior e, consequentemente, para um emprego justo e digno. Aos poucos as coisas estão melhorando, mas ainda existe muito a ser conquistado.
Leia aqui um texto bem interessante sobre o racismo científico.