Artigo publicado no jornal Tribuna de Minas, na edição de domingo, 09/03/14.
Por mais que as estatísticas provem o contrário, o discurso da inexistência de racismo no Brasil ainda é sustentado por pseudointelectuais. Até mesmo na Justiça arrumaram um jeito de esconder essa modalidade de crime, criando a chamada "injúria racial".
Nesta semana, mais dois casos de racismo vieram à tona na mídia e principalmente nas redes sociais. O primeiro trata-se da prisão injusta do ator e psicólogo Vinicius Romão, que foi acusado de ter agredido e assaltado uma mulher no Méier, Zona Norte do Rio. O outro foi a fala de
uma participante do Big Brother Brasil, de que se não usasse desodorante ficaria com "cheiro de neguinha".
No caso do ator, a polícia mandou-o para cadeia sem encontrar nenhum objeto do roubo sob sua posse. O único critério utilizado foi o reconhecimento feito pela vítima, certamente nervosa. Como Vinicius é negro e estava nas proximidades do crime, o que mais precisava ser contestado? Quiseram poupar tempo, pois a cor já dizia tudo, né?
É impressionante como até nos dias atuais "todo camburão tem um pouco de navio negreiro". Abordagens, prisões e execuções sumárias de negros por parte da polícia são mais comuns do que se imagina. Não faz muito tempo que a imprensa divulgou uma ordem de serviço da PM paulista, onde o comandante de um batalhão em Campinas pedia abordagem "especialmente para indivíduos de cor parda e negra."
Passando para a questão do que foi dito no Big Brother Brasil, é interessante ver que a Rede Globo simplesmente levou a cena ao ar, mas sequer se preocupou em repudiar o ato. Ao dizer que a falta de desodorante a deixava com "cheiro de neguinha", Franciele usou o canal para a propagação de ideias racistas, cometeu crime. Mas para a emissora, foi apenas mais um episódio daquele reality show de horrores.
O pior de tudo é saber que essa ofensa vai ficar por isso mesmo. Pois a mesma Justiça que se apressa em mandar um negro inocente para a cadeia é aquela que tem tolerância com o racismo, e não leva a sério nem mesmo o eufemismo da "injúria racial".